sexta-feira, 16 de julho de 2010


Subitamente tocado pela mutabilidade da vida, parou e se perguntou:_ Meu Deus, onde estarei no ano que vem a esta hora?E do futuro respondeu-lhe o tédio: _Aqui, quando te perguntarás onde estarei no ano que vem, e a resposta será: aqui. Quando então te perguntarás, onde estarei...



Surda era Otília. Não ouvia das palavras de amor que ele dizia. Não ouvia as músicas de amor que ele cantava. Ela deslizava os dedos sobre a boca do amado, e nada...Encostava o ouvido no violão, e nada...Nem som , nem vibração chegavam até Otília. Trancada no silêncio, sofria sem encontrar saída. Até que um dia tomada de doce fúria, cravou os dentes no pinho que ele dedilhava e penetrando pelos dentes, fluindo pelos ossos, infiltrando-se debaixo da pele, o som varou enfimofuscante a cabeça de Otília. Surda, porém Otília não falava. Não dizia do amor, não dizia das musicas que agora lhe chegavam... Afastado pela mudez, sofria ele em busca de saída, que encontrou ao cravar os dentes, em doce fúriano branco ombro de Otília. Percorrendo os dentes, deslizando pelos ossos, impregnando toda a pele,ouviu a cadencia suavíssima pulsar do som da amada, que enfim lhe chegava.

By Daia____________________________________________________________