segunda-feira, 14 de março de 2011

A Sombra da esposa...


Por que os homens olhavam demais para a mulher, mandou que desce-se a bainha dos vestidos e para-se de se pintar. Apesar disso, sua beleza
chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que elimina-se os decotes e joga-se os sapatos de saltos altos. Dos armarios tirou as ropas de seda, das gavetas tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim
um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquio-lhe os longos cabelos, não satisfeito arrancou um dente da frente,
olhou para a mulher com ar de satisfação, sensação de serviço cumprido. Agora podia viver descançado. Ninguem se atreveria a olhar duas vezes, homem nem um se interessaria por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças, evitava sair de casa. Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se com dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos da casa, quase que fazendo parte de móveis e sombras, passou a "assombrar" a casa.
Então uma fina saudade, porém, começou a se instalar em seus dias. Não saudade
da mulher, mas do desejo inflamado que um dia sentira por ela.
Então lhe trouxe um batom, no outro dia um corte de seda. Á noite tirou do bolso
uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que lhe restava dos cabelos.
Mas ela tinha adesaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe
agradar, largou o tecido em uma gaveta, esqueceu-se do batom em outra...
Continuou andando pelos cômodos da casa como uma alma, com a mesma velocidade
que a rosa desbotava sobre a comoda, ela desbotava no tempo...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Nunca descuidar do dever!!

Jamais permitia que seu marido fosse para o trabalho com a roupa mal passada, não dissessem os colegas que era a esposa descuidada. Debruçada sobre a tabua com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas, aplainando punhos e peitos, afiando o vinco das calças. E a poder de ferro e goma, envolta em vapores, colarinho liso brilho de celulose.
Impecável transitava o marido pelo tempo. Que, embora respeitando ternos e camisas , começou sub-repticiamente
a marcar seu avanço na pele do rosto. Um dia, notou a mulher um leve afrouxar-se das pálpebras do amado.
Semanas depois percebeu que, no sorriso, franziam-se fundos
os cantos dos olhos... Mas foi só muitos meses mais tarde que apresença de duas fortes pregas descendo dos lados do nariz até a boca tornou-se inegável.
Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado dos sonos , pegou um paninho úmido e silenciosamente ligou o ferro, afinal não poderia ela deixa-se ser chamada de esposa desleixada!