quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Berenice (edgard Allan Poe)

De repente, bateram de manso à porta da biblioteca e um criado, pálido como um habitante do túmulo, entrou na ponta dos pés. Tinha os olhos esgazeados de terror e a sua voz trêmula e abafada falou-me em tom quase imperceptível. Que me disse? - Não ouvi senão algumas frases truncadas. Creio que me contou sobre um grito horroroso que perturbou o silêncio da noite e que todos os criados tinham corrido na direção do som. Então a sua voz baixa se tornou exageradamente clara, ao falar da violação de uma sepultura, de um corpo desfigurado, despojado da mortalha, mas respirando ainda, palpitando ainda, "ainda vivo!"
Então olhou para a minha roupa e ela estava manchada de sangue! Sem dizer uma palavra, pegou-me na mão e ela tinha as marcas de unhadas humanas! Depois apontou para o objeto que se encontrava encostado na parede; era uma enxada!
Soltando um grito medonho, precipitei-me sobre a mesa e agarrei a caixa de ébano; mas minhas mãos trêmulas não tiveram força para segurá-la. A caixa caiu no chão, espalhando, com um tinir de ferragens, alguns instrumentos de cirurgia dentária e, ao mesmo tempo, trinta e duas coisinhas, brancas como marfim, se dispersaram por aqui e acolá, no solo do aposento...



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